Como vender produtos alimentícios em Portugal
Ao longo dos últimos dez anos, fizemos duas dezenas de estudos de mercado sobre produtos alimentícios brasileiros com potencial de entrarem nos mercados europeus, tendo Portugal como porta de entrada.
Algumas informações importantes devem ser levadas em consideração sempre que o produto é um alimento e você deve estar atento. Mais importante do que vender um alimento em Portugal é estar de acordo com a legislação.
Ser punido por isso ou até banido em Portugal por descumprir regras regulatórias pode significar dizer adeus a um potencial enorme de clientes.
Neste artigo, apresento primeiro alguns pontos ligados às normas legais. Depois, apresento uma série de tendências que podem nortear sua decisão quanto à internacionalização.
Reforço ainda que este tema é bastante amplo e ele tem inúmeras derivações em ações tais como análise mais detalhada do consumidor. Veja que em muitos produtos alimentícios, efetuamos até um teste de campo, de palatabilidade, em clientes locais.
Leia, reflita e agende um momento conosco!
AS REGRAS DO PARLAMENTO EUROPEU QUANTO A VENDA DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS NO CONTINENTE
O primeiro ponto quando falamos das normas europeias para a venda de produtos alimentícios, diz respeito a sua rotulagem. Elas devem garantir informações essenciais e precisas, respeitando o Regulamento (UE) n.º 1169/2011 do Parlamento Europeu e do Conselho de 25 de outubro de 2011, relativo à prestação de informação aos consumidores sobre os gêneros alimentícios.
Este regulamento e outros aplicáveis devem ser consultados na íntegra, no entanto, visa essencialmente a obrigatoriedade da apresentação de:
- 1) Denominação do gênero alimentício;
- 2) Lista de ingredientes;
- 3) Indicação de todos ingredientes ou auxiliares tecnológicos que provoquem alergias ou intolerâncias alimentares;
- 4) Quantidades de determinados ingredientes ou categorias de ingredientes;
- 5) Quantidade líquida de ingrediente do género alimentício;
- 6) Data de durabilidade mínima ou data-limite de consumo;
- 7) Condições especiais de conservação e/ou utilização;
- 8) Nome ou firma e endereço do operador responsável pela informação;
- 9) País de origem ou local de proveniência, quando aplicável;
- 10) Modo de emprego, quando a omissão dificultar uma utilização adequada do género alimentício;
- 11) Teor alcoólico para bebidas com título alcoométrico volúmico superior 1,2%;
- 12) Declaração nutricional.
Ainda, o Decreto-Lei 288/84, de 24 de Agosto estabelece as características a que devem obedecer as farinhas destinadas à panificação e a outros fins, as sêmolas utilizadas na fabricação de massas alimentícias e para usos culinários, bem como regula a sua comercialização.
Há ainda que ter em atenção especial a algumas regras para os procedimentos de produção e locais de confecção dos alimentos.
Todos os processos, incluindo a produção, tem obrigatoriamente de cumprir as regras do Sistema de Segurança Alimentar de acordo com a metodologia HACCP – Análise de Perigos e Controlo de Pontos Críticos, do Regulamento (CE) no 852/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho de 29 de abril de 2004, e abrange todos os perigos – biológicos, químicos e físicos. Relativamente à abertura de pastelarias e/ou padarias, a mesma é regulamentada pela ASAE.
Mesmo que os produtos alimentícios sejam exportados para Portugal e não fabricados no país, você deve estar atento às regras do Parlamento europeu, uma vez que também está sob esta regulação.
HÁBITOS GERAIS DO CONSUMO DOS PORTUGUESES
Com uma dieta maioritariamente mediterrânea, os portugueses consomem muitos peixes, azeites e legumes. São raros os pratos em restaurantes que misturam vários hidratos de carbono e há quase sempre uma opção variada de entradas, sopas e sobremesas.
No entanto, o consumo exagerado de sal e açúcar é algo que caracteriza a alimentação em Portugal, e que o governo tem tentado combater:
77% dos portugueses têm uma ingestão de açúcar superior a cinco gramas por dia, enquanto 41% das crianças e quase 50% dos adolescentes consomem açúcares muito acima do recomendado.
A alimentação inadequada contribui para que um em cada dois adultos tenha excesso de peso. Em crianças, uma em cada 12 com menos de cinco anos tem excesso de peso, estatística que sobe para um terço na faixa etária entre os 5 e os 19 anos.
No entanto, segundo um estudo realizado em 2019 pela empresa de sondagens Marktest, a propósito do Dia Mundial da Alimentação, a vasta maioria dos portugueses (83,5%) considera ter uma alimentação saudável.
Verifica-se no mercado alimentar nacional uma crescente procura por produtos alimentícios adequados a serem consumidos por indivíduos com intolerâncias alimentares. Dentro destes, os alimentos sem glúten têm tido bastante destaque nos últimos anos.
Nos últimos 3 anos, a procura por este tipo de produtos tem crescido de forma acentuada, sendo que, a título de exemplo, nos supermercados Pingo Doce, uma das maiores redes de retalho em Portugal, a procura por alimentos sem glúten cresceu 20%, segundo dados da Agência Lusa. Também na rede de supermercados Continente a procura por produtos sem lactose, sem glúten e biológicos cresceu mais de 90%.
Em 2020 foram lançadas algumas metas no que diz respeito à alimentação (listadas na figura abaixo), que levaram a que os restaurantes e estabelecimentos similares tivessem de ter maior atenção na confeção dos seus alimentos.
Como consequência desta reformulação alimentar de vários produtos alimentares comercializados, iniciada em 2018 e terminada em 2021, os portugueses consumiram menos 25,6 toneladas de sal e menos 6256 toneladas de açúcar em três anos.
QUATRO TENDÊNCIAS NO CONSUMO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS EM PORTUGAL
Menos açúcar e gordura
O consumo exagerado de sal e açúcar é algo que caracteriza a alimentação em Portugal, e que o governo tem tentado combater: 77% dos portugueses têm uma ingestão de açúcar superior a cinco gramas por dia.
A alimentação inadequada contribui para que um em cada dois adultos tenha excesso de peso. Em crianças, uma em cada 12 com menos de cinco anos tem excesso de peso, estatística que sobe para um terço na faixa etária entre os 5 e os 19 anos.
Assim, cada vez mais os consumidores portugueses têm consciência do que comem e, por isso, os produtos de panificação e pastelaria com baixo teor de gordura e/ou açúcar estão a ter um aumento considerável de vendas e têm tido cada vez maior adesão por parte das marcas. A Beijo Baiano deverá incluir no seu portfólio produtos com menor teor de açúcar.
Produtos com tradição
Os produtos artesanais e tradicionais são cada vez mais populares junto dos consumidores. Os clássicos ou as receitas tradicionais são o tópico número 1 em produtos de panificação e de outros segmentos em pesquisas feitas.
O radar de tendências Taste Tomorrow de junho de 2022 descobriu que os consumidores procuram conforto e indulgência através do consumo de produtos que homenageiam receitas tradicionais ou autênticas.
Enquanto 60% dos consumidores procuram novas experiências, 67% preferem algum elemento familiar, clássicos com um toque diferente. Portanto, a inovação é bem-vinda, mas precisa de estar assente numa forte tradição artesanal.
Um desses exemplos de regresso às origens é a maior adoção de massa mãe na padaria e pastelaria. As principais marcas estão a introduzir a massa mãe nos seus produtos e os consumidores continuam à procura de soluções com massa mãe.
Além do pão, também os croissants de brioche, muffins, bagels, panetone, cruffins e outros produtos têm aderido a esta tendência.
Facilidade na compra
Uma das tendências com maior crescimento no setor do e-commerce e da restauração/pastelaria é a introdução do MB WAY como um dos métodos de pagamento. O MB WAY trata-se de uma aplicação portuguesa desenvolvida pela SIBS e que está disponível para dispositivos Android, iOS, Windows, Windows Phone e Tizen.
Com esta aplicação é possível ter o Multibanco no telemóvel, gerar cartões virtuais MB NET, enviar e pedir dinheiro e ainda levantar dinheiro no Multibanco.
A adesão ao MB WAY não tem custos, nem para o comerciante, nem para o consumidor e é uma vantagem para as lojas no atual contexto: além das compras efetuadas em estabelecimentos físicos, o MB WAY permite também o pagamento à distância e a integração com e-commerce. Esta solução permite que os clientes paguem com recurso unicamente a um número de telemóvel, sem necessitar de um cartão físico.
Dados da Marktest de 2022 revelam que atualmente o MB WAY é a forma de pagamento preferida no e-commerce em Portugal.
Sustentabilidade
O interesse dos consumidores vai além do produto final: eles estão à procura da sustentabilidade na indústria da comida como um todo.
É a isto que nos referimos com o termo “consumidor responsável”. Os consumidores estão cada vez mais despertos para o impacto ambiental causado pela produção alimentar, e alguns tópicos em especial, como a poluição derivada de plantios, a quantidade de energia usada nas produções, a preferência por materiais recicláveis ou por aqueles que utilizam recursos renováveis.
A preocupação que os consumidores demonstram em reduzir a utilização de plástico no seu quotidiano em prol do ambiente é cada vez maior e tem levado a que as empresas tomem certas medidas preventivas na utilização deste material.
A utilização de produtos 100% recicláveis ou reutilizáveis é o objetivo de muitas empresas. As alternativas bio, como a utilização de copos descartáveis de papel ou talheres de madeira descartável, em detrimento do plástico, são medidas amigas do ambiente que muitos estabelecimentos comerciais já implementaram.
Adicionalmente, uma das preocupações chave é o desperdício de comida; com mais de 50 milhões de toneladas de produtos frescos descartados todos os anos apenas na Europa, por razões simplesmente estéticas.
Cultivadores e produtores precisam assegurar que qualquer colheita que não sirva para o retalhista seja redirecionada para a indústria como matéria-prima, evitando também transportes desnecessários, custos de embalagem e armazenamento, assim como o desperdício.
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Estar atento aos marcos regulatórios, alinhar seus produtos aos hábitos alimentares dos portugueses e ainda adentrar no mercado estando em sintonia com as tendências de consumo, pode não garantir mercado a você, mas sensivelmente irá diminuir suas chances de insucesso.
A Atlantic Hub criou processos e jornadas que podem contribuir para ajudá-lo a criar seu mercado em Portugal. Eu convido você a conhecer melhor como podemos ajudá-lo.
O primeiro passo é estudar seu produto ou serviço em Portugal. Para isso, você precisa conhecer o nosso estudo de mercado Market Fit.
O segundo passo é marcar um momento conosco e conversarmos sobre as melhores estratégias para você acessar o mercado.
Comece hoje mesmo estudando seu mercado conosco e começamos corretamente esta nova fase da sua empresa e da sua vida.
Tenha certeza de que você está com quem conhece a Europa e construiu bases sólidas em Portugal. Nosso time terá o maior prazer em ajudá-lo neste processo.
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Sobre o autor
Benício Filho – Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP, e Filosofia pela universidade Dom Bosco, Mestre pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação, MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Sócio da Core Angels Atlantic (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio fundador da Agência Black Beans, e sócio fundador da Atlantic Hub e do Conexão Europa Imóveis ambos em Portugal, atua como empresário, escritor e pesquisador das áreas de empreendedorismo, mentoring, liderança, inovação e internacionalização. Em dezembro de 2019, lançou o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas”, em dezembro de 2020 seu segundo “Do Caos ao Recomeço”, e em janeiro de 2022 o último publicado “ Metamorfose Empreendedora”.
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