Como é ter um sócio português
Ter a noção de como é ter um sócio português pode não parecer relevante em um primeiro momento, pois provavelmente o escopo mais comum de constituição de empresas brasileiras em Portugal sejam empresas com sócios do Brasil.
Porém um dado não pode passar despercebido de você e por isso este artigo deve ser lido com bastante atenção, principalmente por aqueles que estão em um processo de internacionalização ou desejam levar sua empresa para o mundo através de Portugal.
Hoje os brasileiros são a maior comunidade de uma nação em Portugal. Somamos mais de 400 mil pessoas segundo dados oficiais.
Tendo este contingente de brasileiros em Portugal e o crescente interesse, fica cada vez mais evidente o quanto é importante você saber como é ter um sócio português.
Escrevo aqui com bastante propriedade no tema. Além de ter sócios português temos muitos colaboradores também. Escrevi há algum tempo como é o dia a dia de trabalho em Portugal. Mas hoje quero falar com mais detalhes sobre como é ter um sócio português.
Alguns desafios, entendimento das diferenças culturais e, ainda, algumas dicas fazem parte deste material. Venha comigo e deixe seu comentário ao final.
GERE SEU PRÓPRIO VALOR
Dias atrás, um empresário brasileiro comentou comigo que estava muito chateado por uma situação que ele havia passado. Segundo ele, em uma negociação para participar de uma sociedade com dois outros portugueses, não foi levado em consideração pelos demais novamente, segundo ele seu ativo de conhecimento sobre o tema do empreendimento.
Perguntei a ele em qual momento da negociação este tema havia sido colocado diretamente a mesa ou se apenas havia ficado subentendido que era algo relevante a ser refletido.
Ele então, respondeu que sim, mas ao ser questionado novamente disse que havia comentado, mas nunca colocado como um dos pontos da negociação.
A questão acima é que o conhecimento em questão era algo fundamental para a execução do projeto, mas este que era sim um ponto essencial nunca foi tratado como tal, mas por que não?
Porque não estava claro, estava subentendido. O que está subentendido pode ser ou não entendido. Não subestime o poder de deixar claro todos os pontos em negociação.
E aqui, reafirmo o próprio tópico deste ponto. Gerar seu próprio valor é deixar extremamente claro aquilo que é importante para nós, inclusive nossa visão do quanto valemos.
Seja por nosso conhecimento, relevância ou ainda capital investido. Não parta do pressuposto que o outro está entendendo.
Claro que isso não vale apenas para uma relação com um sócio português. Em qualquer relacionamento, quando não fica claro o que cada um quer e sente que vale, o outro pode definir por ele e neste ponto, mora o perigo.
EM NEGOCIAÇÕES, ESQUEÇA O LADO EMOCIONAL
Outra relação muito complexa quando falamos na relação com um sócio português é o fator emocional. Somos em grande maioria muito mais emocionais do que os nossos irmãos portugueses.
Na verdade, quando eles estão na mesa em uma negociação se desprendem totalmente da questão emocional.
Lembro em uma negociação com um dos nossos atuais sócios portugueses que acabei fazendo alguns comentários muito mais de cunho pessoal do que do negócio em si.
Sem nenhum cuidado ouvi um sonoro, “Este tema, não está em questão, o que estamos discutindo aqui é outro ponto.”.
O emocional jamais pode estar na mesa em uma discussão de negócios com um sócio português ou mesmo em uma negociação. Retire qualquer sentimento que tenha a respeito e tente ao máximo olhar a questão apenas com o olhar do negócio.
A FORMA LITERAL NA COMPREENSÃO PODE GERAR CONFLITOS
Que eles são literais, isso não é novidade para você. Bem, espero que não seja novidade. Mas para ilustrar a qual literalidade estou falando, gosto de contar um exemplo.
Certa vez, um turista brasileiro chegou em um restaurante e se sentou para escolher o que iria comer. Enquanto esperava, perguntou se tinha Coca Cola. Passado algum tempo, nada da Coca Cola chegar.
Neste momento, ele perguntou novamente ao garçom se tinha Coca Cola ele novamente respondeu que sim. O brasileiro já meio sem paciência disse: poxa, por que você não trouxe uma?
O garçom com muita naturalidade respondeu: oras, você perguntou se tinha, não disse que queria uma.
Imagine esta literalidade em um dia a dia de trabalho. Os conflitos são comuns, caso não seja compreendido, principalmente por nós, o que eles estão dizendo.
Dizer que nossa língua é igual é inocência. Não são iguais mesmo. Temos diferenças bem importantes quanto a forma e significado de muitos termos.
Outros pontos que devem ser percebidos são quanto a relação pessoal. Os portugueses, com todo o direito, abrem suas vidas aos poucos para quem está chegando, no caso, nós.
Não queira que sua amizade seja reconhecida no curto prazo. Conquistas de confiança levam tempo e isso não muda somente porque você está em outro país.
A TROCA DE CONHECIMENTO É ENRIQUECEDOR
Este é um dos temas mais relevantes em minha opinião. A forma como geramos conhecimento ainda é bastante distante da forma como eles fazem isso.
É muito comum sentar-se em um café de bairro em poucos minutos e conversar com o dono do local sobre temas diversos.
A cultura do cidadão português é muito elevada. Eles estudam na média mais do que nós e somente como exemplo, 72% da população fala inglês fluente.
A experiência de mundo deles também é um diferencial. Um dos nossos sócios visitou mais de setenta países e trabalhou com diversos deles.
O enriquecimento cultural proporcionado por esta relação é bastante sensível. Ganhamos muito com este conhecimento, assim como eles também ganham com nossa experiência no Brasil.
Os desafios que temos em empreender no Brasil nos credenciam a resolver praticamente qualquer problema. Mas quando juntamos os dois lados do Atlântico, muita coisa boa pode surgir.
Compreendo que isso não é pouco e, inclusive, pode ser um dos nossos maiores ativos, somos realmente resilientes, criativos e empreendedores. Mas isso precisa ser posto à mesa.
CONHEÇA SEUS SÓCIOS PORTUGUESES COMO FARIA NO BRASIL
Sempre digo que todos os meus sócios são amigos que eu viajaria com eles. Sempre digo que alguém que você consegue ficar três ou quatro dias junto é alguém que merece sua atenção.
Em uma viagem, no primeiro dia, todos são amigos. No segundo dia, alguns pontos de divergência surgem. No terceiro dia, muita gente não se suporta mais.
A questão central é que não deveríamos nos tornar sócios apenas por questões técnicas. Os valores humanos são essenciais e são por eles que você irá desfazer uma sociedade.
Mesmo com colaboradores, muitas empresas contratam pela capacidade técnica e demitem por questões pessoais e de relacionamento.
Devemos escolher sócios portugueses como escolhemos no Brasil. Primeiro gostamos das pessoas, depois começamos a falar de trabalho.
Estudar efetivamente se existe uma oportunidade para sua empresa em Portugal é o primeiro passo que acreditamos ser mais assertivo.
Caso você tenha interesse antes de ter um sócio em estudar seu mercado em Portugal, conheça mais o Market Fit, ele poderá com certeza ajudá-lo.
Dúvidas sempre existem. Marque um momento comigo e vamos juntos conversar para alinhar como seria sua busca por novos horizontes em Portugal.
Sobre o autor,
Benício Filho – Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente também está concluindo o curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador dá Palestras & Conteúdo, Sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio fundador da Agência Incandescente, sócio fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal), atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio), além de participar de programas de aceleração como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros. Palestrando desde 2016 sobre temas como Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência, já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.
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