Saiba como é o segmento agropecuário em Portugal
À primeira vista, e face à pequena dimensão territorial de Portugal, temos a ideia de que grande parte do que está nas bancas dos supermercados é importado. Mas os números do agropecuário em Portugal mostram o contrário.
Nunca Portugal produziu tantos produtos agrícolas como atualmente. Ao longo dos últimos anos, o défice alimentar – diferença entre o que consumimos e o que importamos – tem sido reduzido a um ritmo de 400 a 500 milhões de euros ao ano.
Se à agricultura somarmos as pescas, a silvicultura e a indústria agroalimentar, as exportações portuguesas já cobrem cerca de 87% das compras ao exterior.
E este déficit continua a diminuir. Segundo um estudo do Fórum para a Competitividade, Portugal poderá atingir a suficiência alimentar em 2020, algo que nunca aconteceu na história recente.
O mesmo estudo admite que, se a tendência se mantiver, em 2027 o país poderá ser excedentário na alimentação em 10 por cento.
A dar força a este fenômeno estão os números do Instituto Nacional de Estatística. Nos últimos seis anos, as exportações de produtos agrícolas produzidos em solo português aumentaram mais de 40%, passando de 2,4 mil milhões de euros, em 2012, para 3,4 mil milhões de euros em 2017, últimos dados disponíveis.
Ao longo dos últimos cinco anos, o aumento da produção agrícola foi superior ao crescimento econômico do País.
Números que apenas são atingidos graças a uma nova geração de agricultores, mais dinâmica, inovadora e virada para os mercados internacionais. Apostam na diferenciação e em culturas que produzem mais cedo em Portugal, para poderem vender ao estrangeiro a um preço mais vantajoso.
Analisando este contexto exposto, gostaria de apresentar algumas tendências do segmento para iluminar as possibilidades de investimento.
#1 INTERNET OF THINGS OU INTERNET OF COW
Hoje em dia as vacas deambulam pelos pastos verdejantes munidos de sensores nas orelhas, à volta do pescoço, nas patas e também na cauda. Já há quem as trate pelo nome de “vacas tecnológicas”.
Estas enviam informação em tempo real para a aplicação que o agricultor tem no seu smartphone sobre a temperatura corporal, tempos de ruminação, horas de pastoreio, passos dados, trajetos efetuados e, ainda sobre as vezes que levantam a cauda para expelir fezes, para contabilização de emissões de gás metano.
Esta informação enviada pelas vacas para a base de dados da exploração agrícola pode ajudar a ter animais mais saudáveis, mais robustos, mais eficientes e mais produtivos, o que, no fim, poderá significar produtos de melhor qualidade, e mais amigos do ambiente.
A internet das vacas, que nasce do conceito da internet das coisas, está a despontar uma nova e florescente área de negócios: a venda de dispositivos eletrônicos e sistemas de informação para as grandes explorações agrícolas.
A IoT fornece dados sobre objetos e a internet das vacas envia dados sobre as manadas, permitindo a análise pormenorizada sobre o estado de saúde e sobre o comportamento de cada animal.
Já há relatos de casos internacionais que apontam para ganhos de produtividade – com a aplicação de suportes digitais na agricultura – da ordem dos 30%.
#2 AGROPECUÁRIO EM PORTUGAL DE PRECISÃO
Aliado a IoT surge a agricultura de precisão. Além dos empresários hoje em dia terem um controle das explorações mais apertado e maiores produtividades, podem usar os dados recolhidos de forma inteligente para fazer aumentar a rentabilidade das explorações.
A partir de agora o produtor de gado passa a dispor de um manancial ‘brutal’ de informação sobre os seus animais como nunca teve no passado. Resta agora saber tratar toda essa informação e, dessa forma, obter melhores níveis de conforto para os animais, maiores produtividades por cabeça de gado e maior rentabilidade para exploração.
Em Portugal já há algumas experiências de agricultura de precisão em curso no Alentejo, na zona de Évora, com algumas explorações pecuárias.
São casos isolados, mas, em termos de agricultura de precisão, atualmente há cerca de 40 grandes empresários do sector a utilizar algumas destas tecnologias.
A nível global, os investimentos em agricultura de precisão representaram, em 2016, quase €3 mil milhões, segundo uma empresa de dados sediada na Califórnia (Estados Unidos).
Alguns analistas do setor estimam que, dentro de cinco anos, este conceito poderá valer qualquer coisa como €7 mil milhões com tendência para continuar a aumentar.
Este aumento no setor e a digitalização dos processos produtivos da agricultura vai de encontro com as recomendações da FAO (organismo das Nações Unidas para a alimentação): com a população mundial aumentando, a procura de alimentos subindo e cada vez menos produtores, só uma gestão mais eficiente e mais inteligente poderá dar uma resposta adequada a esta nova realidade.
O problema é que a maioria dos agricultores, tanto em Portugal como no resto da Europa, têm explorações de pequena dimensão e, regra geral, não dispõem de recursos financeiros suficientes para se equiparem do ponto de vista tecnológico.
#3 ECONOMIA CIRCULAR E PRODUÇÃO DE ENERGIA
As empresas agrícolas estão cada vez mais atentas aos benefícios de possuir a sua própria fonte de energia.
Isto acontece devido ao fato de o custo de implantação de tecnologias renováveis, como eólica, solar, geotérmica, hidrelétrica e biomassa, continuar a diminuir e o custo da energia dita tradicional continuar a aumentar.
É sabido que no setor agropecuário em Portugal, as empresas levam este princípio adiante, considerando (na medida do possível) a totalidade da energia que entra e sai das explorações.
Isto leva, por exemplo, que se desenvolvam estratégias específicas para maximizar a eficiência energética, reduzir / reutilizar / reciclar fluxos de resíduos, integrar vários fluxos de receita e otimizar processos.
As tecnologias que melhoram a transição do estado atual para uma abordagem mais circular da agricultura terão um efeito transformador nas práticas agrícolas.
A reciclagem de resíduos é um bom exemplo, que se verifica com a adaptação de tecnologias mais modernas, como é o caso da digestão anaeróbia (DA), uma técnica em grande crescimento no Reino Unido.
O potencial para otimizar a DA para certos tipos de explorações agrícolas, com a reutilização de resíduos e produtos, é uma área em crescimento, que provavelmente irá criar modelos de negócios novos no setor agrícola, e que permitam reutilizar recursos e criar produtos de valor acrescentado a partir dos atuais resíduos produzidos nas explorações.
O projeto Smart Circle reúne diversas pesquisas nessa área, e trabalha em parceria com empresas agrícolas de modo a maximizar a eficiência no uso de recursos.
O armazenamento de energia é um campo em crescente desenvolvimento. Nos últimos anos viu empresas pioneiras como a Tesla encontrar maneiras de suavizar a falta de energia ao usar fontes renováveis, aproveitando as propriedades químicas de um tipo específico de moléculas.
O que as empresas pretendem com a agricultura é isso mesmo, ver as propriedades existentes no recurso agropecuário em Portugal e fazer deles uma fonte de energia, como por exemplo o metano que é produzido pelas vacas.
#4 ROBÓTICA E BEM ESTAR ANIMAL
Um robô pode simplesmente ser capaz de realizar uma tarefa sem a necessidade de supervisão ou ajuda humana.
Podem ser máquinas fixas que estão numa fábrica (por exemplo, a encher sacos ou a empilhar paletes) ou com sistemas mais evoluídos, como salas de ordenha robóticas ou AgBots, que realizam tarefas no campo, como semear, remover infestantes ou aplicação de herbicidas, entre outros.
Está a tornar-se uma tendência no setor agropecuário em Portugal, o uso de robôs para fazer pequenas tarefas, muito devido à falta de mão de obra, e também para promover uma melhoria da qualidade de vida dos animais.
Os robôs de limpeza de fezes, operados e/ou programados usando apenas o smartphone, recolhem as fezes dos animais e liberam água, ficando o piso mais limpo, melhorando assim o bem-estar dos animais e baixando os riscos de doença, o que promove um aumento da sanidade do efetivo pecuário.
Robôs de alimentação automáticos já são também uma tendência, e podem ser programados para distribuir diferentes misturas de alimentos (leite, silagem, forragem) em horários predefinidos.
Esta tecnologia ajuda a aumentar a ingestão de alimentos, melhora a fertilidade, a produção e a saúde dos animais, além de reduzir o trabalho em termos de mão de obra.
Existem também robôs para remoção de infestantes através de sistemas de análise de imagem, deslocando-se pelas pastagens com sensores e câmeras, por forma detectar e remover infestantes.
#5 TRANSPARÊNCIA E RÓTULOS LIMPOS
Esta tendência pretende aumentar a capacidade de escolha do consumidor, através da promoção de uma maior informação dos produtos consumidos.
Podem constar informações sobre a proveniência dos produtos, sobre o modo de produção, sobre a presença de aditivos e sobre as condições de manejo dos animais.
Os consumidores consideram esta tendência como um indicador de produtos saudáveis e seguros, que engloba três áreas: ingredientes, nutrição e sustentabilidade.
Os consumidores procuram alimentos sem sabores artificiais, cores e alérgenos, e com uma lista de ingredientes que revele a rastreabilidade do produto, bem como uma certificação da qualidade do produto.
Em relação à produção, os consumidores esperam que a mesma seja ética por parte das empresas e explorações, e que venha com selo de garantia de bem-estar animal.
Os consumidores estão mais exigentes com as cadeias de comércio, seja em termos ambientais, de higiene, sociais, etc…
Nos dias de hoje, os consumidores pretendem saber a verdadeira história que está por detrás dos alimentos que consomem – qual o caminho percorrido por parte do alimento desde a colheita até as prateleiras da loja.
#6 AGRICULTURA 4.0 NO CENÁRIO AGROPECUÁRIO EM PORTUGAL
As práticas agrícolas e pecuárias estão entrando em uma nova fase, com uma onda de tecnologias e processos de industrialização e de inteligência artificial e tecnológica, que contribuíram para uma revolução das práticas mais mecanizadas e de intervenção humana.
Esta prática é denominada por Agricultura 4.0. Esta nova revolução inclui a substituição gradual da mão de obra humana, e adapta o modelo de negócio à tecnologia da informação avançada, criando uma rede de contato mais abrangente entre a exploração e a cadeia de distribuição, o que permite um maior acesso ao consumidor.
A agricultura 4.0 levou o setor a avanços significativos e a um crescimento produtivo acentuado, no caso específico de Portugal, em termos industriais e tecnológicos.
O segmento agropecuário em Portugal, ao contrário do que muitos imaginam por lá, tem sim bastante elemento a ensinar a um país extenso e produtivo como o Brasil.
Também, acredito que vale sua atenção caso seja seu caso investir neste segmento por aqui. Se você quiser conversar e compreender mais sobre Portugal, agende um momento para conversarmos e juntos discutiremos seu futuro em Portugal.
Forte abraço!
Sobre o autor,
Benício Filho – Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente também está concluindo o curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador dá Palestras & Conteúdo, Sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio fundador da Agência Incandescente, sócio fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal), atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio), além de participar de programas de aceleração como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros. Palestrando desde 2016 sobre temas como Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência, já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.
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