Será que Portugal pode ser uma nação de startups?
Quando entrei pela primeira vez no Web Summit a cinco anos atrás, uma frase ficou martelando no meu ouvido: “Portugal seria uma nação de startups”.
Claro que qualquer país pode ter este objetivo. Mas quando pensamos em um país com apenas dez milhões de habitantes fica difícil imaginar que isso é possível. Um parêntese nesta primeira abordagem minha é Israel. Este pequeno país também tem dez milhões de habitantes.
O que estas duas nações têm incomum? A população é apenas um detalhe, o que está por trás da mentalidade de ser uma nação de startups, em que encontrar terreno fértil tem muito mais a ver com as pessoas que estão lá do que apenas uma vontade política.
Sistema educacional, população que fala inglês, universidades conectadas ao universo corporativo, falta de recursos naturais, pequeno território etc.
Entenda que não podemos dizer que apenas um fator determina uma nação a ser uma nação de startups, mas sim diversos fatores. Para começarmos nossa reflexão, quero aprofundar o tema sobre a abundância de recursos naturais.
A maldição dos recursos naturais
A maldição dos recursos naturais, também conhecido como o paradoxo da abundância, (em inglês, resource curse ou paradox of plenty) refere-se ao paradoxo em que os países e regiões, com uma abundância de recursos naturais tendem a ter menos crescimento econômico e piores resultados de desenvolvimento se comparados a países com menos recursos naturais.
Esta hipótese pode acontecer por diversos motivos, incluindo um declínio na competitividade de outros setores econômicos (causada pela valorização da taxa de câmbio como as receitas dos recursos entre uma economia, um fenômeno conhecido como doença holandesa).
A volatilidade da receita do setor de recursos naturais devido a exposição às oscilações das commodities globais de mercado, má gestão governamental dos recursos, ou, instituições ineficientes e instáveis estimulando a corrupção (possivelmente devido ao fluxo facilmente desviado de receita real ou antecipada das atividades extrativistas).
Existem países e regiões, como a África Subsaariana e a América Latina, e os países dessas regiões, que são ricas em recursos naturais, mas apresentam crescimento menor que as regiões e países que não têm recursos naturais em abundância, como por exemplo os Tigres Asiáticos.
A ideia de que os recursos naturais podem ser mais uma maldição do que uma bênção econômica começaram a surgir na década de 1980.
Nessa época, o termo resource curse thesis foi utilizado pela primeira vez por Richard Auty em 1993 para descrever como os países ricos em recursos naturais não foram capazes de usar essa riqueza para impulsionar suas economias e como, contra-intuitivamente, esses países tiveram um crescimento econômico menor do que países sem uma abundância de recursos naturais.
Inúmeros estudos, incluindo um por Jeffrey Sachs e Andrew Warner, têm mostrado uma ligação entre a abundância de recursos naturais e o baixo crescimento econômico.
A desconexão entre a riqueza dos recursos naturais e o crescimento econômico pode ser visto olhando um exemplo dos países produtores de petróleo.
De 1965 a 1998, nos países membros da Opep, o crescimento do Produto Interno Bruto per capita diminuiu em média 1,3%, enquanto no resto dos países desenvolvidos, o crescimento per capita era, em média 2,2%.
Alguns estudiosos argumentam que os fluxos financeiros a partir de ajuda externa podem provocar efeitos semelhantes à maldição dos recursos naturais.
Israel, uma nação voltada para o mundo
Um breve histórico do surgimento do estado de Israel nos ajuda a compreender o atual ecossistema de inovação existente neste país.
Após a adoção de uma resolução pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 29 de novembro de 1947, recomendando a adesão e implementação do Plano de Partilha da Palestina para substituir o Mandato Britânico.
Em 14 de maio de 1948, David Ben-Gurion, o chefe-executivo da Organização Sionista Mundial e presidente da Agência Judaica para a Palestina, declarou o estabelecimento de um Estado Judeu em Eretz Israel, a ser conhecido como o Estado de Israel, uma entidade independente do controle britânico.
As nações árabes vizinhas invadiram o recém-criado país no dia seguinte, em apoio aos árabes palestinos. Israel, desde então, travou várias guerras com os Estados árabes circundantes.
No decurso das quais ocupou os territórios da Cisjordânia, península do Sinai, Faixa de Gaza e colinas de Golã. Partes dessas áreas ocupadas, incluindo Jerusalém Oriental, foram anexadas por Israel, mas a fronteira com a vizinha Cisjordânia ainda não foi definida de forma permanente.
Israel assinou tratados de paz com Egito e Jordânia, porém os esforços para solucionar o conflito israelo-palestino até agora não resultaram em paz.
Escassez de recursos naturais, inclusive água, e mercado consumidor pequeno sem condições de atender países vizinhos devido a divergências.
Constante temor de guerras e conflitos regionais ou ainda o sentimento de manter viva a chama deste povo criou com movimento empreendedor onde o único lema é empreender para fora do país.
Fica fácil entender estes aspectos sociais como startups nascidas em Israel imediatamente começam a explorar outros mercados.
O Waze é prova disso. Logo nos primeiros movimentos desta startup o mercado internacional já era seu principal alvo.
Portugal, o Hub europeu que virou uma nação de startups
Portugal também tem seus desafios geográficos, pois sem fronteiras para outro país além da Espanha não resta outro caminho que não seja criar empresas que não utilizam muitos recursos naturais mas que tenham grande possibilidade de crescimento e faturamento.
Após a crise econômica global de 2008, Portugal mergulhou numa grave depressão. Em 2011, à beira da falência, o governo português solicitou um pacote de resgate no valor de 78 bilhões de euros à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
O desembolso foi autorizado, sob a condição de que o país implementasse medidas de austeridade. Foram os anos da “troika”, como são popularmente conhecidas as imposições da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do FMI.
O período foi caracterizado por um corte significativo das despesas públicas, o que afetou principalmente os salários dos funcionários públicos e as aposentadorias. Já os impostos foram aumentados.
Mas o desemprego não parou de aumentar — atingiu a cifra recorde de 17,7% em 2013 — assim como nem a pobreza e o descontentamento social. Por outro lado, o consumo e a moral dos portugueses despencaram.
Após as reformas realizadas por um governo de centro-direita sob a supervisão da troika, Portugal se libertou dos credores internacionais em junho de 2014, embora não houvesse motivo para muitas comemorações.
A taxa de desemprego rondava os 12%, 20% da população vivia abaixo da linha da pobreza e 485 mil portugueses emigraram do país entre 2011 e 2014.
Após as eleições de 2015, um novo cenário começou a ser criado tendo como um dos pilares o ecossistema de inovação.
Governo, universidades, comunidade, escolas, movimentos empresariais e a sociedade civil ajudaram na construção do que hoje é visto como um dos ecossistemas mais interessantes e atraentes da Europa.
Portugal pode ser uma nação de startups? Bem, a resposta é sim. Com mais de 70% da população falando inglês e sendo um dos locais onde uma enormidade dos chamados nômades virtuais escolheram morar, Portugal forma mão de obra e atrai interessados e empreendedores de todos os lados da Europa e do mundo.
Proporcionalmente a sua população, Portugal hoje se destaca como berço de cinco unicórnios, aquelas startups que têm valor de mercado acima de 1 bilhão.
Com certeza este movimento não para por aqui. Para quem caminha em Portugal, sabe que uma das cenas mais comuns é encontrar dezenas de gruas nos prédios que constantemente estão em expansão, construção ou reforma.
Deste ecossistema, temos muito o que presenciar ainda e por isso, podemos acreditar que ser uma nação de startups é apenas uma questão de tempo.
O que realmente define o futuro de algo são as ações que tomamos no presente, sobre isso, não tenho dúvida que algo definitivo está acontecendo em Portugal.
Venha fazer parte desta nação de startups
O Brasil é sem dúvida uma imensidão. Oportunidades não faltam em nosso país com mais de 200 milhões de habitantes e tamanho geográfico continental.
Por que então internacionalizar uma empresa sendo o Brasil uma nação imensa? A questão é que não vivemos mais de forma individual. Estamos todos conectados em mercados ocultos.
Como diria George Orwell, o escritor Inglês, “O grande irmão, tudo vê”. Esta é sem dúvida uma das melhores imagens para definir a ação dos mercados conectados que vivemos hoje em função da globalização.
Estamos todos conectados. Não faz sentido ter uma empresa a não ser que ela seja apenas uma empresa para pagar suas contas ou genuinamente algo que não tenha aderência fora do Brasil ficar apenas em nosso país.
Criar receitas em outras moedas desde que elas sejam fortes, ajuda na manutenção e no aumento de caixa, gera novas fontes de receita e pode, inclusive, ser a porta de entrada para movimentos de inovação.
Outros países pensam diferente de nós, não se trata aqui de quem é melhor, mas sim como podemos realmente ganhar com isso.
Por onde você pode começar? Bem, minha dica é primeiro estudar se seu produto ou serviço tem aderência de mercado em Portugal.
Um estudo de aderência de mercado responde às suas perguntas e constrói as etapas seguintes. No artigo “Bem mais que Tapioca”, aprofundo as fases seguintes após o estudo de aderência e auxílio você começará esta jornada rumo ao mundo.
Se você quiser conversar e compreender mais sobre Portugal, agende um momento para conversarmos e juntos discutiremos seu futuro em Portugal.
Forte abraço!
Sobre o autor,
Benício Filho – Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente também está concluindo o curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador dá Palestras & Conteúdo, Sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio fundador da Agência Incandescente, sócio fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal), atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio), além de participar de programas de aceleração como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros. Palestrando desde 2016 sobre temas como Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência, já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.
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