Pode ser o home office a nossa nova Caverna de Platão?
Éramos felizes e não sabíamos! Ouvi desta forma o relato de um empresário e duas horas depois de dois colaboradores de uma mesma empresa que comentaram comigo depois de perguntar como eles estavam enxergando o home office após esse período de um ano e meio devido a pandemia da COVID-19.
Claro que ninguém ama ficar duas horas por dia no trânsito de uma grande cidade em deslocamentos para clientes ou escritórios, mas posso afirmar a você que o modelo que estamos hoje também está bem longe de ser o sonhado como bacana para uma experiência de trabalho remoto.
Um ponto importante sobre tudo que estamos vivendo é compreender que não fomos preparados para o trabalho em casa. Fomos obrigados a ele. Poucos tinham um espaço próprio em casa para trabalhar, espaço para os filhos estudarem e ambiente agradável para isso tudo.
Mesmo aqueles que ao longo da pandemia mudaram de casa e chegaram aos extremos de devolver prédios e salas comerciais, começam a conviver com o que tenho chamado de escassez de inspiração.
A verdade é que sem romantizar nada em relação a esta pandemia, podemos sim aprender muitas lições com ela. Recentemente, escrevi um livro sobre este tema que resumo no artigo “Do Caos ao Recomeço”.
Gostaria de aprofundar alguns aspectos com você sobre como vejo nosso comportamento com o home office e depois aprofundar alguns pontos, tais como a fadiga do Zoom, cansaço mental aos extremos e falta de inspiração criativa.
A NOVA CAVERNA DE PLATÃO
Na famosa alegoria do filósofo Platão sobre a ignorância da realidade belamente simbolizada no mito da caverna, podemos encontrar elementos que nos ajudam neste momento a compreender melhor o que estamos passando.
Vale lembrar alguns pontos sobre a alegoria antes de avançarmos. Durante algumas gerações, um grupo de homens vivia em uma caverna como se nada mais existisse, enxergando o mundo externo apenas pelas sombras da luz solar ou da lua que entravam por uma pequena fresta.
A caverna simboliza nosso corpo e os nossos sentidos, fonte de um conhecimento que, segundo Platão, é errôneo e enganoso.
A luz que ofusca a visão dos moradores da caverna os coloca em uma situação de desconforto, é o conhecimento verdadeiro, a razão e a filosofia.
A pandemia não transformou para a maioria das pessoas a casa onde moravam em um lar, mas sim em uma prisão ou caverna, afinal fomos obrigados a ficar dentro de casa e este não foi um processo pelo qual estávamos esperando ou preparados.
Assim como as redes sociais têm levado cada vez mais um número enorme de pessoas para outras cavernas, muitos estão hoje no home office que também representa um lugar de prisão e não conforto.
QUAIS SINAIS PODEMOS PERCEBER QUE O MODELO EXCLUSIVO DE HOME OFFICE ATUAL ESTÁ EXAURINDO ALMAS
Já é realidade em alguns países da Europa e nos EUA uma retomada da vida em que o trabalho remoto como única forma de trabalho deve ser combatido e em alguns casos não mais solicitado.
Os sinais são claros, muitos times já perceberam que a criatividade tem sido duramente prejudicada no modelo on-line.
Em uma célebre fala de Steve Jobs, ele dizia que “inovação apenas acontece quando duas ou mais pessoas estão presencialmente juntas”.
Claro que os extremos são péssimos e não tivemos escolha, pelo menos uma parte das pessoas que puderam trabalhar online, afinal muita gente não teve escolha e continuou no presencial.
Em minha própria história, nunca havia trabalhado em casa mais que dois dias seguidos. No início da pandemia, mudei radicalmente meu modelo de trabalho e por mais de doze meses não saí da minha residência.
Outro exemplo, uma das empresas que atuo, migrou quase cem colaboradores para o home office em questão de dias.
Não tivemos escolha, mas será mesmo que este será o modelo definitivo?
Se a falta de criatividade é um dos sinais de que o modelo único do home office já está perto do fim, outro sinal é a estafa mental.
Conheço uma enormidade de pessoas que por não ter ambientes diferentes simplesmente estão doentes. Não conseguem descansar e estão trabalhando muito mais do que no presencial.
Um termo bem utilizado atualmente é a fadiga do Zoom. Este termo provavelmente será estudado pois sintetiza o cansaço que estamos das reuniões on-line.
Cinco, dez, vinte por dia! A mente não para! Muitas empresas estão simplesmente exaurindo a alma dos colaboradores uma vez que agora estão a um clique.
A Caverna foi imposta a todo o planeta, mas sair dela dependerá de cada um de nós.
SAINDO DA CAVERNA
Sair da Caverna não será um ato coletivo, mas sim individual. Quando ouço que algumas grandes empresas devolveram seus prédios e agora apenas o modelo on-line será o adotado, fico com uma enorme sensação de que novamente tem muito empresário sendo radical.
No mito da Caverna, o prisioneiro que se liberta e contempla a realidade fora da caverna, devendo voltar à caverna para libertar seus companheiros, representa o filósofo que, na concepção platônica, conhecedor do Bem e da Verdade, é o mais apto a governar a cidade.
Quem se liberta da Caverna encontra a luz, mas nem todos conseguiram se libertar. A questão que está à nossa frente é simples.
Os extremos apenas criam novos problemas. Precisamos ajustar o bom do universo home office com a inegável importância do presencial.
Eu sinto enorme saudade de encontrar pessoas, tenho buscado isso neste momento ainda de maneira tímida, mas não ficarei apenas no online, isso é fato.
Outro ponto é que economizamos toneladas de recursos circulando menos em ações que facilmente poderíamos fazer no remoto.
Hoje, sou mais produtivo e eficiente que antes. Em minha opinião, regrar os dois modelos é o caminho do meio.
Fazer o que pode ser feito online, reduzindo custos e economizando recursos. Por outro lado, manter uma regularidade de encontros presenciais onde o mais importante seja o encontro com o outro e não o trabalho que poderia ser feito no remoto.
Como na vida nenhum lado do extremo é bom, a melhor saída é o encontro com o bom senso.
Temos percorrido uma longa jornada no modelo home office. Acredito que ainda estamos no início de entender o melhor modelo. Se fez sentido para você minhas reflexões, deixe seu comentário. Se quiser bater um papo comigo, agende um momento que conversamos.
Abraço forte e te vejo presencialmente em algum dos eventos ou reuniões que amo fazer!
Sobre o autor,
Benício Filho – Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente também está concluindo o curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador dá Palestras & Conteúdo, Sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio fundador da Agência Incandescente, sócio fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal), atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio), além de participar de programas de aceleração como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros. Palestrando desde 2016 sobre temas como Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência, já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.
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