Segmentos inusitados: O mercado de mel e própolis em Portugal
Podemos internacionalizar produtos genuinamente brasileiros para Portugal? Aprofundo o mercado de mel e própolis para a Europa a partir de Portugal neste artigo sobre segmentos inusitados.
Segmentos inusitados: O mercado de mel e própolis em Portugal
Quando pensamos em segmentos que podem ser explorados para internacionalização, tradicionalmente vem à nossa cabeça os mais conhecidos.
Gosto de pensar que também nos segmentos mais comuns estão os maiores desafios quanto a concorrência e a diferenciação do empreendimento.
Assim como nas empresas ágeis mais conhecidas como startups, se faz necessário uma diferenciação clara da sua abordagem ao problema resolvido. Também nas empresas mais tradicionais, construir diferenciais torna o negócio mais interessante.
Um negócio efetivamente não deveria ser criado sem que sua proposta de valor deixasse claro o que ela tem de diferenciais em relação aos demais.
Parece óbvio, mas a quantidade de negócios que praticamente repetem o que já existe assusta quem está na rotina de analisar modelos de negócios.
Falando em diferenciais, caso seu mercado seja o agronegócio, quero neste artigo abordar um pouco sobre o segmento do mel e própolis.
A relação entre o homem e a abelha data do período paleolítico, sendo a apicultura uma das mais antigas produções do mundo.
Atualmente, a atividade é tida como estratégica para o desenvolvimento sustentável do espaço rural, enquanto fonte de rendimento e emprego e, em especial, pelo papel que desempenha na polinização de espécies nativas e cultivos agrícolas.
De acordo com o programa Apícola Nacional 2020-2022, a apicultura portuguesa concentra-se normalmente nas regiões do Interior Norte e Centro.
Ela é exercida sobretudo por pequenos apicultores, em que 89% são considerados apicultores não profissionais por terem menos de 150 colmeias. Os apicultores com menos de 25 colmeias em particular, cuja produção é considerada apenas como autoconsumo, perfazem 53% do total.
Associativismo como organização do setor
O setor do mel tem vindo a organizar-se e tem tido desenvolvimentos positivos ao nível das Organizações de Produtores (OP), associações de produtores e cooperativas.
No seu conjunto, encontram-se identificadas 49 entidades coletivas representativas do setor, das quais 32 são associações de produtores e 17 cooperativas.
Destas entidades, 4 são Organizações de Produtores reconhecidos para o setor do mel. Este setor tem uma dinâmica de associativismo interessante, mas carece ainda de uma organização da fileira, com uma integração vertical e cooperação empresarial (inexistência de Organizações Interprofissionais) que potencialize mais o dinamismo do setor que permita nomeadamente promover a oferta e divulgação ao nível da cadeia de valor.
Quanto à sua dispersão geográfica nos país, a região Centro, com 18 entidades, é a que acolhe maior número de entidades (37%) e apicultores associados.
O Algarve tem apenas 2 associações. Não existem Organizações Interprofissionais (OI) reconhecidas ou em fase de reconhecimento neste setor.
Relativamente ao número de apicultores em OP, verificou-se um aumento substancial em termos ponderais, ao qual não deve ser dado grande relevância, uma vez que este aumento se deve ao fato de só existirem dados pós 2015, altura em que apenas 1 OP estava reconhecida.
Assim, Portugal passou de 18 apicultores abrangidos por OP em 2015, para 159 em 2017. Em termos absolutos este valor é muito reduzido face ao total de apicultores nacionais. Em conjunto, as 4 OP reconhecidas têm um VPC de cerca de 400 mil euros.
Tendências no consumo do segmento de mel e derivados
Quando compreendemos as tendências do segmento podemos perceber se estamos diante de uma oportunidade ou de um movimento pontual de consumo.
Destaco seis tendências que reforçam a oportunidade que existe neste segmento para que você possa se debruçar sobre a oportunidade que temos em Portugal e por sequência Europa.
TENDÊNCIA (1) – CONVENIÊNCIA E RAPIDEZ
Comidas e bebidas “on-the-go” (para viagem) não são de forma alguma uma nova tendência, mas ainda assim é esperado que continue a crescer nos próximos anos.
Esta tendência ultrapassou a do preço-qualidade, sendo que o consumidor não se importa de pagar mais desde que seja rápido.
Iniciada nos anos 70 e alinhada com um estilo de vida cada vez mais agitado e frenético, rapidez é o elemento que, mais do que qualquer outro, tem marcado uma diferença substancial em como as pessoas estruturam as suas vidas. Não é surpreendente que estes anos coincidiram com a propagação de restaurantes fast-food.
TENDÊNCIA (2) – TRANSPARÊNCIA 2.0
Os consumidores estão mais exigentes com as cadeias de comércio, seja em termos ambientais, higiênicos ou sociais.
Nos dias de hoje, os consumidores pretendem saber a verdadeira história por detrás dos alimentos que consomem e qual o caminho percorrido por parte do alimento, desde a colheita até às prateleiras da loja.
Uma das grandes apostas para a entrada no mercado pode passar por adotar uma estratégia de transparência em relação ao processo produtivo do mel.
Adotar uma estratégia de transparência, torna-se um fator diferenciador porque permite criar laços de confiança com o consumidor.
Neste caso, a utilização de plataformas digitais para mostrar a realidade de todo o processo pelo qual o produto passa antes de chegar às mãos do consumidor, constitui uma mais-valia na interação e na relação entre marca-consumidor.
TENDÊNCIA (3) – ZERO PLÁSTICO
A preocupação que os consumidores demonstram, cada vez mais sentida, em reduzir a utilização de plástico no seu quotidiano em prol do ambiente, tem levado a que as empresas tomem certas medidas preventivas na utilização deste material.
A utilização de produtos 100% recicláveis ou reutilizáveis, é o objetivo de muitas empresas. As alternativas bio, como a utilização de copos descartáveis de papel ou talheres de madeira descartável, em detrimento do plástico, são medidas amigas do ambiente que muitos estabelecimentos comerciais já implementaram.
TENDÊNCIA (4) – SUSTENTABILIDADE
O interesse dos consumidores vai além do produto final: Eles estão à procura da sustentabilidade na indústria da comida como um todo. É a isto que nos referimos com o termo “consumidor responsável”.
Os consumidores estão cada vez mais despertos para o impacto ambiental causado pela produção alimentar, e alguns tópicos em especial, como a poluição derivada de plantios, a quantidade de energia usada nas produções, a preferência por materiais recicláveis ou por aqueles que utilizam recursos renováveis, etc.
Adicionalmente, uma das preocupações-chave é o desperdício de comida; com mais de 50 milhões de toneladas de produtos frescos descartados todo os anos apenas na Europa, por razões simplesmente estéticas, cultivadores e produtores precisam assegurar que qualquer colheita que não sirva para o retalhista, seja redirecionada para a indústria como matéria prima, evitando também transportes desnecessários, custos de embalagem e armazenamento, assim como o desperdício.
TENDÊNCIA (5) – PRESERVAÇÃO
Os impactos da agricultura desenvolvida sem medidas sustentáveis atingem diretamente o equilíbrio ecológico de uma região.
A desflorestação para a criação de pastagens e monoculturas, o uso incorreto e intensivo do solo sem medidas de conservação e a aplicação de produtos químicos sem seletividade prejudicam não só a polinização e a produtividade das lavouras, mas também o uso destas áreas pelos próprios agricultores a longo prazo.
Estabelecer um cultivo sustentável e com boas práticas agrícolas é visto como uma das saídas para se produzir mais, mantendo o uso consciente e racional dos recursos naturais.
O estímulo à produção apícola pode ajudar a equilibrar a balança, uma vez que as abelhas completam um ciclo de preservação e produtividade porque vivem melhor em biomas naturais.
TENDÊNCIA (6) – POLINIZAÇÃO
É de referir ainda que a atividade apícola proporciona um serviço – a polinização — relevante para a continuidade dos ecossistemas, na preservação da biodiversidade florística e no aumento da produção agrícola, designadamente em culturas produtoras de grão e semente de frutos.
Os benefícios deste serviço traduzem-se em aumentos no valor comercial dos frutos, do teor de óleo das sementes, do tempo de conservação dos frutos, entre outros aspetos.
O acréscimo de produtividade varia de 37% (Girassol) a 500% (Cebola).
Num ambiente adequado, as abelhas podem aumentar a polinização no seu caminho entre a floresta e a colmeia, impulsionando a produtividade dos campos de cultivo localizados entre elas.
Em resumo, manter um ambiente ideal para o bom desenvolvimento destes insetos tem impactos positivos a nível ecológico, econômico e social.
Deste modo, o produtor beneficia não só da venda dos artigos em si, mas também das melhores condições para trabalhar com outras atividades agropecuárias.
Em Portugal, a utilização de colmeias para o serviço de polinização é ainda pouco usual, apenas alguns apicultores de maior dimensão rentabilizam as suas explorações apícolas através dos contratos de polinização.
No entanto, começaram a surgir tecnologias inovadoras para este fim. Um projeto do Instituto Politécnico de Coimbra venceu recentemente o concurso Poliempreende, a maior rede de promoção de empreendedorismo em Portugal com um conjunto de soluções para a indústria da apicultura, entre as quais um dispositivo para o controle do efeito da vespa asiática e a criação de uma nova geração de colmeias mais eficientes.
No início deste artigo comentei com você que o segmento de Mel e Própolis é um dos mercados que você deveria conhecer.
Caso investir neste segmento seja ideal para você, entre em contato conosco. Se você quiser conversar e compreender mais sobre Portugal, agende um momento para conversarmos e juntos discutiremos seu futuro em Portugal.
Forte abraço!
Sobre o autor,
Benício Filho – Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente também está concluindo o curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador dá Palestras & Conteúdo, Sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio fundador da Agência Incandescente, sócio fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal), atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio), além de participar de programas de aceleração como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros. Palestrando desde 2016 sobre temas como Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência, já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.
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