Desvelando Portugal através de uma garrafa de vinho
DESVELANDO PORTUGAL ATRAVÉS DE UMA GARRAFA DE VINHO PORTUGUÊS
Era uma fria tarde de fevereiro. O vento perto do Tejo, tocando meu rosto com aquele ar frio, para um carioca pouco acostumado com temperaturas baixas eu sentia como poucos um calafrio que percorreu quase todo meu corpo.
Havia pousado em Lisboa há pouco mais de duas horas. Já acomodado em meu hotel percorria as ruas que naquele tempo não eram muito limpas e os prédios que eu via ao longo do caminhar eram feios, sujos e maltratados.
O ano era 2005. Minha primeira viagem à Europa teria que ter como início Portugal. Engraçado que o único vinho português que até então eu havia conhecido eram os vinhos do Porto. Encantado por seu aroma e sabor eu já reconheço que uma paixão reside adormecida dentro de mim.
Bem, não sou português de descendência direta. Na raiz genealógica, sim, tenho Portugal no sangue. Mas diretamente dos meus avós e mãe, somos espanhóis. Mas que seja dito aqui, logo ali bem pertinho da fronteira com Portugal. Nos famosos territórios galegos.
Minha paixão por vinhos é de longa data. Tomávamos com meus avós mesmo ainda crianças. Parece loucura dizer isso, mas em muitos países da Europa o vinho é graça não algo que represente o mal. Assim, quase que como um ritual a família toda bebe vinho ao redor da mesa.
Terra dos Tempranillos, a Espanha tinha até então minha predileção tanto no paladar como no coração.
Naquela tarde fria, caminhando pelas ruas de Lisboa, que não me instigavam a ir muito longe, avistei na praça do comércio, local famoso pela sua história e bares um pequeno lugar que acolheria meu corpo do frio e começaria a construir minha paixão pelos vinhos portugueses.
Quem já esteve em Portugal, sabe que sentar em uma mesa e ao redor dela para tomar um vinho é algo mais comum do que tomar um gole de água. Eu não estava sozinho e em companhia da minha primeira esposa que jamais apreciou vinho, comecei a escolher uma garrafa quando fui interrompido por um senhor que vendo minha indecisão estava um pouco impaciente.
SE VOCÊ EM PORTUGAL TOMAR UM VINHO RUIM, SAIBA QUE ESTÁ COM SORTE
Aquele senhor dotado de toda a paciência de um português tradicional estava realmente bravo comigo. Eu fazia mil perguntas ao garçom, afinal eu não conhecia nada dos vinhos portugueses.
Sua indignação era tanta que ele não se conteve. Levantou até minha mesa e disse: “Jovem, sei que tu es brasileiro. Filho, escolha qualquer um dos vinhos. Tenho certeza que o mais barato deles irá encantá-lo. Apenas recomendo que com este frio que estamos, tome logo um tinto.”
Aquela era minha primeira viagem à Europa. Eu passaria quarenta dias percorrendo mais de dez países. Começava por Portugal e percorreria muitas cidades entrando depois na Espanha. Mas trinta e oito dias depois, finalizaria minha jornada em Portugal fechado a viagem novamente em Lisboa.
A escolha foi um vinho de pouco mais de 9 euros da região do Douro. Bem, confesso que a sensação realmente foi muito intensa. Acostumado aos vinhos que transcendem nossa história, aquele vinho me conectaria com Portugal lançando desafios que em um futuro não muito distante eu aceitaria como uma nova jornada de vida.
Foram naquela viagem algumas garrafas de vinhos portugueses das mais diversas regiões. Dão, Douro, Alentejo, Porto, Verdes bem lembro que quando entrei na Espanha e comecei a procurar vinhos portugueses, fiquei triste em perceber que cada país da Europa tem em seu vinho quase que seu DNA. Assim, não é muito simples tomar na Espanha ou Itália um vinho de Portugal.
Anos se passaram desde esta viagem e muitas vezes voltei a Portugal. Posso dizer que acompanhei a lei que mudou a forma de locação de imóveis o que possibilitou um rejuvenescimento incrível nas cidades de Portugal bem como as reformas econômicas que trouxeram uma leva de imigrantes e centenas de empresas de tecnologia para as grandes cidades.
Anos depois, ou melhor mais de uma década depois, eu entenderia tendo fundado com meus sócios a Atlantic Hub, como uma boa mesa com vinho português e amigos pode significar em nossa vida.
CELEBRAR A VIDA AO REDOR DA MESA COM UM VINHO PORTUGUES
Com o maior consumo por pessoa do mundo, lembre-se que são setenta e duas garrafas na média por português, (no Brasil nossa média é menos de três). Eles sabem mesmo como celebrar a vida com uma garrafa de vinho.
Minhas conexões com Portugal foram crescentes ano a ano. Acabaram se tornando exponenciais e fundamos muitos negócios, inclusive uma rede de pizzarias. Por força da história, uma das minhas atividades em Portugal tem sido levar em missões anuais mais de 200 brasileiros no final do ano.
Como disse, as conexões com este pequeno país se tornaram maiores do que posso imaginar. Acabei por nos últimos cinco anos comemorando meu aniversário em Portugal. Quase que como uma nova casa, Portugal tem sido meu lar.
Bem, o ápice desta relação e da conexão que este líquido milenar proporciona foi no ano de 2019 novamente ao comemorar meu aniversário por aqui. Até então isso não é muita novidade, mas o mais incrível do ambiente criado pelos vinhos portugueses é que passamos a fazer parte desta história à medida que comungamos dessa alegria e também inserimos este ritual em nossa vida.
Nesta comemoração novamente ao redor da mesa, com amigos, família e muitos vídeos dos amados que ficaram no Brasil, confesso que choro e alegria incendiavam minha vida. Quando acreditamos em nossos sonhos, precisamos apenas parar de sonhar e através de ações construir o que desejamos.
A cada momento que crescemos enquanto empresa em Portugal, comemorar com uma nova garrafa de vinho que afinal ela representa minha história e o que mais importa. As pessoas que amamos, vivendo, curtinho e confraternizando ao redor da mesa.
Forte abraço e não esqueça de, estando em Portugal, partilhar comigo uma garrafa de vinho.
Sobre o autor,
Benício Filho – Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente também está concluindo o curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador dá Palestras & Conteúdo, Sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio fundador da Agência Incandescente, sócio fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal), atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio), além de participar de programas de aceleração como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros. Palestrando desde 2016 sobre temas como Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência, já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.
Compartilhe:
Quer levar sua empresa para Portugal?
Posts relacionados
Termômetro de maturidade para internacionalização, o que é isso?
Tempo de leitura: 5 minutos Quando uma empresa define que...
Ler mais arrow_right_altExplorando o potencial do mercado de produtos orgânicos em Portugal
Tempo de leitura: 4 minutos O mercado de produtos orgânicos...
Ler mais arrow_right_alt